segunda-feira, 27 de abril de 2009

25 Abril contado por quem viveu



-------------------------------


Gostei muito do dia 25 de Abril de 1974.
Nesse dia a escola foi só um bocadinho e eu fartei-me de brincar.
A minha avó foi buscar-me mas parecia preocupada. Estava ansiosa que os meus pais chegassem a casa . Achei que ainda era cedo ,mas não disse nada.
Na televisão viam-se muitos soldados,mas não havia guerra.
O meu pai foi o primeiro a chegar e vinha muito contente. Fingi que não o tinha visto a chorar pois tive medo que ficasse envergonhado.
Sentou-me ao colo dele e ficámos a ver os soldados sem guerra na televisão.
A minha mãe chegou mais tarde.
Também ela vinha contente e trazia na mão um molho de flores vermelhas, que eu não me lembro de ter visto antes, mas que disse chamarem-se cravos.
Os meus pais abraçaram-se e choraram, mas não estavam tristes.
A minha mãe falava muito e contava o que tinha visto.
Acho que era sobre aqueles soldados sem guerra, num sítio qualquer chamado Carmo.
Não percebi nada e achei que, naquele dia, os adultos todos se comportavam de uma forma muito estranha.
A minha mãe trouxe-me cerejas dentro de um pacote de papel castanho com risquinhas vermelhas, que eu comi em frente à televisão.
Eu adoro cerejas.
Fomos muitas vezes à varanda da nossa casa, com vista para a Avenida Alfredo da Solva, para vermos as pessoas que passavam na rua.
Eram cada vez mais estavam tão felizes como eu quando como cerejas.
Nunca tinha visto tantas pessoas felizes juntas.
Também ouve outra coisa que gostei.
O meu pai pediu-me ajuda para fazer um "V" com as flores vermelhas que a minha mãe tinha trazido, os cravos.
Pendurámos o "V" na varanda para que todas as pessoas pudessem ver.
Ficou bonito. O meu pai disse que era um "V" de vitória-
Mais uma vez não percebi nada mas não quis estragar a festa com a minha ignorância.
Gostei muito do dia 25 de Abril de 1974.
Mas o que mais gostei foi da cerejas e das flores vermelhas, os cravos...
Tia do André Amado (Ana Gomes Rocha)
-------------------------------------------------
A Apolónia é uma amiga minha, que nasceu no Algarve e veio estudar para Lisboa e morar para o Barreiro.
Foi no Barreiro que percebeu que havia injustiças e começou a ser contra o regime fascista e a intervir contra a ditadura e por isso foi presa em Caxias. O marido estava na guerra em Moçambique e a filha de um de um ano e meio estava com a sogra.
A minha amiga foi libertada no dia 24 de Abril de 1974.
Quando saiu da prisão foi a casa de um amigo que lhe disse que esta noite não dormisse porque algo iria acontecer e ficasse atenta ás noticias da telefonia.
Mas como não sabia o que se estava a passar porque tinha estado presa durante um mês sem dormir na sua cama, foi-se deitar.
Foi acordada pela sogra que lhe gritou:
-Acorda!Acorda! Estão a dar noticias na telefonia , houve qualquer coisa em Lisboa!...
Saiu de casa a correr e foi para Lisboa para o Largo do Carmo, porque cria estar na rua ao lado dos militares e do povo.
Amiga do Tiago Peixe
------------------------------------------------------

Sem comentários: